Influxos da ciência moderna no discurso arquivístico

Autores

Palavras-chave:

Arquivologia. Modernidade. Positivismo. Ciência Moderna. Discurso.

Resumo

Demonstra e discute impressões distintivas da Ciência Moderna no discurso da Arquivologia. Para isso, investiga a Modernidade, a filosofia positivista e a Ciência Moderna visando ao reconhecimento de seus princípios epistemológicos e regras metodológicas. Elege princípios e fundamentos que sustentam o pensamento arquivístico e intenta verificar na formação discursiva da disciplina influências herdadas da Ciência Moderna. Empreende pesquisa teórica, com abordagem qualitativa e de caráter exploratório-descritivo. Utiliza o método da história cruzada e a abordagem da arqueologia dos saberes para analisar fontes bibliográficas à luz de um debate aprofundado sobre história e comparação buscando identificar enunciados próprios da formação discursiva da Arquivologia. Verifica que a Modernidade inaugura um campo discursivo comum e que o saber científico moderno se edifica sob os pilares da ordem, da separabilidade e da razão. Constata que a Ciência Moderna imprime no discurso da Arquivologia características relativas à objetividade, universalidade, neutralidade, formulação de leis gerais, identificação de regularidades, separação, quantificação, classificação e determinação de relações sistemáticas. Conclui que os fundamentos da Arquivologia são guiados pelo ideal de verdade moderno, baseiam-se no método científico e no racionalismo cartesiano, bem como recebem influências diretas da metodologia das Ciências Naturais, tendo como principais exemplos os usos de perspectivas geológicas e de metáforas biológicas.

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Biografia do Autor

Cássio Murilo Alves Costa Filho, Universidade de Brasília, Brasília (DF), Brasil

Graduado em Arquivologia (2012), Mestre em Ciência da Informação (2016) e Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília. Atualmente é Analista de Administração Pública do Tribunal de Contas do Distrito Federal, atuando como Supervisor do Sistema de Gestão de Documentos e Encarregado pela Proteção de Dados Pessoais (DPO). Vencedor do Prêmio Nacional de Arquivologia - Maria Odila Fonseca, categoria Dissertação de Mestrado, promovido pelo Arquivo Nacional, e do Prêmio Melhor Dissertação, promovido pelo Fórum Nacional de Ensino e Pesquisa em Arquivologia, ambos no ano de 2017. Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Arquivologia, atuando principalmente nos seguintes temas: teoria e epistemologia, pós-custodialismo, gestão de documentos e documentos digitais.
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Renato Tarciso Barbosa de Sousa, Universidade de Brasília, Brasília (DF), Brasil

Possui graduação em História pela Universidade de Brasília (1990), especialização em Organização de Arquivos pela Universidade de São Paulo (1992), mestrado em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade de Brasília (1995) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (2005). Atualmente, é professor associado do Curso de Arquivologia e diretor da Faculdade de Ciência da Informação, da Universidade de Brasília. Vice-líder do Grupo de Pesquisa Estudos de Representação e Organização da Informação e do Conhecimento. Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Organização de Arquivos, atuando principalmente nos seguintes temas: arquivologia, organização e recuperação de arquivos, gestão de documentos, formação profissional e políticas públicas de arquivo.
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Angelica Alves da Cunha Marques, Universidade de Brasília, Brasília (DF), Brasil

Doutorado (2011) e mestrado (2007) em Ciência da Informação; graduação em Arquivologia (2003), pela Universidade de Brasília (UnB). Pós-doutoramento junto ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da UnB e da École Nationale des Chartes/Sorbonne(Paris), entre 2014 e 2015. Professora do Curso de Arquivologia da UnB desde 2009. Vice-líder do grupo de pesquisa Fundamentos históricos, epistemológicos e teóricos da Arquivologia (FHETA). Credenciada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do IBICT/UFRJ como docente permanente, desde 2020, onde desenvolve projeto de pesquisa sobre os fluxos do conhecimento arquivístico entre os países do Sul no contexto pandêmico. Esteve credenciada no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UnB entre 2013 e 2022.
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Publicado

2024-01-01

Como Citar

Costa Filho, C. M. A., Sousa, R. T. B. de, & Marques, A. A. da C. (2024). Influxos da ciência moderna no discurso arquivístico. ÁGORA: Arquivologia Em Debate, 34(68), 1–22. Recuperado de https://agora.emnuvens.com.br/ra/article/view/1184

Edição

Seção

Artigos