O contraste entre a oralidade e a escrita nos terreiros de candomblé: os cadernos de fundamentos como parte da memória de uma religião

Autores

Palavras-chave:

Memória, Memória oral, Candomblé, Cadernos de fundamentos, Registros escritos.

Resumo

No candomblé, religião com grande influência da herança do continente africano, a tradição oral esteve presente desde os primórdios da sua criação e é latente até a atualidade. Contrastando com a oralidade, encontra-se nos espaços religiosos e utilizados por seus adeptos os cadernos de fundamentos, objetos de estudo deste artigo, onde são analisadas seus usos e particularidades. Ao abordar as etnografias, Araújo e Lima (2018), Castillo (2010) foram cruciais para definir e conceituar a respeito dos registros da religião afro-brasileira. O ponto de início foi pesquisar a memória dos grupos religiosos, como as tradições orais e escritas e, posteriormente, analisar o contexto histórico do culto brasileiro, em particular no Rio de Janeiro. O cerne da pesquisa estava em abordar o uso e a produção destes documentos no contexto da Ciência da Informação. A metodologia qualitativa foi utilizada pelo uso de fontes bibliográficas. Conclui-se que a utilização de registros escritos, aliados à oralidade, fazem parte da história da religião, na qual o fator oralidade sempre será o mais importante.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fernando Corteze, Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil

Graduado em Arquivologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Graduando do curso de Biblioteconomia e Documentação pela mesma Universidade. Atualmente membro do grupo Sociedade, Memória e Poder, da Universidade Federal Fluminense junto ao CNPq. Possui interesse nas áreas de memória, oralidade e produção documental nos espaços afro-religiosos, em especial terreiros de candomblé e umbanda.
Link Currículo Lattes - http://lattes.cnpq.br/3074964376273856.

 

Carlos Henrique Juvêncio, Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil

Doutor (2016) e mestre (2014) pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCINF) da Universidade de Brasília (UnB). Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Entre 2014 e 2016 foi professor substituto do Curso de Biblioteconomia da Faculdade de Ciência da Informação (FCI) da Universidade de Brasília (UnB). Durante o primeiro semestre de 2017 foi professor visitante do Curso de Ciência da Informação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal (FLUP). Durante seis anos (2004-2010) foi funcionário da Biblioteca Nacional, trabalhando nas divisões de Manuscritos, Música e Arquivo Sonoro e Publicações Periódicas. Atualmente é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) e do Departamento de Ciência da Informação (GCI) da Universidade Federal Fluminense (UFF). Concluiu, em 2019, o projeto de pós-doutorado "O DASP e a organização da informação no Brasil: da Documentação à Ciência da Informação" sob supervisão da professora Georgete Medleg Rodrigues (UnB). Líder do Grupo de Pesquisa "Sociedade, Memória e Poder". Tem como temas de interesse a História da de Ciência da Informação, da Biblioteconomia, da Bibliografia e da Documentação, além de realizar pesquisas e orientações sobre colecionismo, coleções e arquivos pessoais, memória e história do Brasil, história do livro e das bibliotecas, dentre outros.
Link Currículo Lattes - http://lattes.cnpq.br/1646741868261976.

Referências

ANDRADE, L. L. de. Da tradição oral à escrita: cultura, resistência e cadernos de fundamentos. Ideias e Inovação: Lato Sensu, [S. l.], v. 3, n. 3, p. 37, 2017. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/ideiaseinovacao/article/view/4368.

ARTIÈRES, Philippe. Arquivar a própria vida. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV), v. 11, n. 21, p. 9-34, 1998.

BASTIDE, Roger. O Candomblé da Bahia: rito Nagô. São Paulo: Companhia das Letras, 1961.

BRASIL. Código Penal de 1890. Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/D847.htmimpressao.htm.

BRASIL. Constituição (1824). Constituição Política do Império do Brazil, de 25 de março de 1824. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm.

CASTILLO, Lisa Earl. Entre a oralidade e a escrita: a etnografia nos candomblés da Bahia. Salvador: EDUFBA, 2010.

CONDURU, R. Das casas às roças: comunidades de candomblé no Rio de Janeiro desde o fim do século XIX. Scielo Brasil, Rio de Janeiro, v. 11, n. 21, p. 178-203, jul./dez. 2010.

DIAS, Cora. Retratos - Saravá! Candomblé é patrimônio nacional. Revista Desafios do Desenvolvimento, Brasília, v. 8, 67 ed., 2011.

ECO, Umberto. A memória vegetal: e outros escritos sobre bibliofilia. Rio de Janeiro: Record, 2010.

ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei nº 2303/2009. Declara o Candomblé como patrimônio imaterial do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2009.

ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Lei Estadual nº 5.506, de 15 de julho de 2009. Declara o candomblé como patrimônio imaterial do estado do Rio de Janeiro. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 16 jul. 2009.

FREITAS, R. O. Candomblé e mídia: breve histórico da tecnologização das religiões afro-brasileiras nos e pelos meios de comunicação. Acervo: Revista do Arquivo Nacional, v. 16, n. 2, p. 63-88, 2003.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. 6. ed. Curitiba: Positivo, 2005.

FUNDAMENTO. In: MICHAELIS Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Melhoramentos, 2015. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/fundamento/.

BÂ, Hampaté A. A tradição viva. In: KI-ZERBO, J. História Geral da África: metodologia e pré-história da África. São Paulo: UNESCO, 1982.

IPHAN. Ministério da Cultura. Preservação de bens afrodescendentes: terreiros tombados. Brasília, DF: IPHAN, 2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1312/#:~:text=Os%20terreiros%20abrigam%20um%20universo,as%20mem%C3%B3rias%20ancestrais%20dos%20africanos.

JARDIM, J. M. A invenção da memória nos arquivos públicos. Ciência da Informação, [S. l.], v. 25, n. 2, 1996. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/659.

KONRAD, Glaucia Vieira Ramos, MERLO, Franciele. Documento, história e memória: a importância da preservação do patrimônio documental para o acesso à informação. Informação & Informação, Londrina, v. 20, n. 1, p. 26 - 42, jan./abr. 2015.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1990.

LIMA, A.; ARAUJO, L. Caderno de fundamentos: arquivos do sagrado e dos segredos. Boitatá, [S. l.], v. 13, n. 25, p. 187–202, 2018. DOI: 10.5433/boitata.2018v13.e35136. Disponível em: www.uel.br/revistas/uel/index.php/boitata/article/view/35136/0.

LIMA, Valdir. Cultos afro-paraibanos: jurema, umbanda e candomblé. Rio de Janeiro: Fundamentos de Axé, 1. ed., 2020.

MAZRUI, Ali A. Arquivos africanos e a tradição oral. O Correio da UNESCO, v. 13, n. 4, p. 13-15, abr. 1985.

NORA, Pierre. Entre memória e História: a problemática dos lugares. In: Projeto História. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC – S.P. São Paulo, 1981.

OLIVEIRA, O. L. O léxico da língua de santo: a língua do povo de santo em terreiros de candomblé de Rio Branco, Acre. Rio Branco: Edufac, 2019.

POLLAK, Michael. Memória e Identidade Social. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, 1992, p. 200-212.

POMIAN, K. Memória. In: ENCICLOPÉDIA Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 2000. v. 42, p. 507-516.

PORTELLA, Rodrigo. Memória, indivíduo e religião: pressupostos para a pesquisa sobre religião no tempo presente. REVER : Revista de Estudos da Religião, v. 18, p. 195-208, 2018.

PRANDI, Reginaldo. O candomblé e o tempo: concepções de tempo, saber e autoridade da África para as religiões afro-brasileiras. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 16, n. 47, p. 43-58, out. 2001.

SERAFIM, V. F.; SANTOS, T. B. João do Rio e a história das religiões afro-brasileiras. Mouseion: Revista do Museu e Arquivo Histórico La Salle, ano 8, v. 17, n. 1. 2014.

SILVA, Vagner Gonçalves de. A questão do segredo no candomblé. Revista de História, São Paulo, v., p. 1-2, jun. 2011. Disponível em: https://antropologia.fflch.usp.br/files/u127/segredo.pdf.

SILVA, Vagner Gonçalves de. Orixás da metrópole. In: SILVA, Vagner Gonçalves de. O candomblé no mundo da escrita. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 244-287.

SILVA, Vagner Gonçalves. O terreiro e a cidade nas etnografias afro-brasileiras. Revista de Antropologia, FFLCH/USP, n.36, p. 33-79, 1993.

SOUZA NETO, A. DE; AMARAL, P. L. Os Imponderáveis da etnografia religiosa: uma análise sobre o trabalho etnográfico no campo da religião. Mneme: Revista de Humanidades, v. 12, n. 29, 5 ago. 2011.

VANSINA, Jan. A tradição oral e sua metodologia. In: História geral da África. São Paulo: Ática, Paris: UNESCO, 1982, v. 1

VERGER, Pierre Fatumbi. Ewe: o uso das plantas na sociedade iorubá. Companhia de Letras, São Paulo, 1995.

VERGER, Pierre. Notas sobre o culto aos orixás e voduns na Bahia de Todos os Santos, no Brasil e na Antiga Costa dos Escravos, na África. Tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura. 2. ed., 1. reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.

Downloads

Publicado

2023-09-21

Como Citar

Corteze, F., & Juvêncio, C. H. (2023). O contraste entre a oralidade e a escrita nos terreiros de candomblé: os cadernos de fundamentos como parte da memória de uma religião . ÁGORA: Arquivologia Em Debate, 33(67), 1–22. Recuperado de https://agora.emnuvens.com.br/ra/article/view/1152

Edição

Seção

Artigos